Trabalho: você se reconhece naquilo que faz?

Hoje faz um mês que aceitei o desafio de um novo trabalho. São novas ações, novos espaços, novos saberes e objetivos, pessoas e ambientes. Após um período de reconhecimento do novo espaço/tempo começo a identificar um pouco de mim no que faço, significando todas as ações e transformando o que me cabe.

Mas isso pode ser privilégio de poucos.

A concepção do trabalho, hoje, nos remete à visão desse sistema capitalista, da produção em série, dos operários ou funcionários correndo “atrás da máquina” que, atualmente, leia-se: lucros. As tarefas são executadas por partes e cada um é reponsável pela sua parte. Com os mecanismos de produção compartimentados perdemos a noção do todo. Deixamos, assim, de nos reconhecermos e nos comprometermos com aquilo que fazemos.

Perdeu-se, nessa nova configuração do trabalho, o que Lukács denomina da função ontológica do trabalho. Mas o que significa isso?

É simplesmente você se reconhecer naquilo que faz, naquilo que você produz. E quantas pessoas se reconhecem nas suas funções? Nos seus afazeres diários dentro dos seus locais de trabalho?

Ilustro minhas reflexões com um trecho da obra de Lukács, que denomina-se “O Trabalho” e cita Karl Marx:

“Nós pressupomos o trabalho numa forma exclusivamente humana. A aranha realiza operações que se parecem com as do tecelão, a abelha faz corar de vergonha muitos arquitetos ao construir as suas células de cera. Mas o que distingue, essencialmente, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu a célula na sua cabeça antes de fazê-la em cera. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já estava presente desde o início na mente do trabalhador que, deste modo, já existia idealmente”. 

E você, na relação com o seu trabalho, nas ações executadas diariamente, consegue se reconhecer naquilo que faz, naquilo que produz ou transformou-se apenas em um “fazedor de coisas”? 

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