Revisitando meu antigo caderno de poesias, contos e pensamentos encontrei este texto escrito em 2001… Hoje consigo entender um pouco mais o que essas palavras queriam me dizer.
A gaivota que habita em mim
“O que é você se não um pouco de mim?”
A pergunta pairou no ar e em meu pensamento. Meu corpo, minha mente e essência afundavam-se na procura. O sol era cúmplice de minha agonia. Sua força e beleza magistral eram incapazes de me dizer algo. Supliquei, mas só consegui luz. Uma luz intensa que insistia em mostrar-me seu poder.
O momento era de insatisfação e insegurança, mas a luz me fez leve e a areia que me sustentava agora era fofa, branca e confundia-se com meu corpo. Éramos uma coisa só. Eu, a terra que me sustentava, o ar que respirava e a luz que me conduzia.
Passeei pela praia em companhia do barulho do mar. As ondas levavam meus movimentos e pensamentos. O que é você? O que sou eu? O que é você se não um pouco de mim? Perguntava-me com a mesma estupidez e gentileza que hora e outra se alternavam as ondas do mar. As coisas continuavam a se misturar. Eu, terra, ar, luz e água. Pensamentos e atitudes. Você e eu.
Subtamente a gaivota.
É, aquela gaivota!
Impiedosa conduzia-me ao horizonte. Solitária, tendo apenas a liberdade e beleza como companheiras, foi incapaz de guiar meu olhar ao fundo. Ao real encontro do céu com o mar. De mim com o mundo.
Ela me levou. Me trouxe. E não me deu a resposta. Por favor gaivota – gritei. Mas sua beleza e liberdade foram incapazes de me acudir. Meus pensamentos calaram, meus atos cessaram, apenas minha essencia era capaz de se manifestar seguindo a gaivota ao horizonte, sentindo sua beleza e liberdade, buscando o algo mais, incansável e sendo única.
Neste exato momento em que permanecia sentada na areia aconchegante, ouvindo a melodia das ondas do mar, respirando profundamente e sendo incessantemente iluminada pelo sol, observava a gaivota solta, livre, bela, única, fazendo-me descobrir que sou o todo.
O que sou eu se não o pouco de um tudo!
O que sou eu se não o tudo de um pouco!