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Para sonhar um ano novo…

 

“Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Carlos Drummond de Andrade

FAÇAMOS UM ÓTIMO ANO NOVO…

O que é o fim?

Hoje terminei minha dissertação.

Ela está impressa, encadernada, pronta para a defesa em fevereiro. São leituras, reflexões, interações, aprendizado, ações e sensações… Dois anos de dedicação que agora tornam-se palpáveis.

É o fim. Isso é o que vem em mente enquanto a observo na estante.

E isso me traz a estranha sensação de felicidade e tristeza.

A alegria do objetivo alcançado, meta cumprida,  sonho realizado, da superação e do constante exercício de aperfeiçoamento. De poder tocar o que por dois anos foi foco de dedicação e estudo. De vislumbrar toda a trajetória e entender que o fim é apenas um novo começo.

Mas a tristeza da partida também faz parte de mim, de saber que as coisas irão mudar, de se distanciar de pessoas e fazeres que me deixaram por tantas vezes feliz.

Porém, reconhecer e vivenciar conscientemente essas sensações tão antagônicas em mim, me faz bem.

A dor da despedida, de abandonar o que está no fim.

A alegria de um novo início. Da busca por novos sonhos, por novas metas, por outras superações, de novos encontros, novos afazeres.

A felicidade de saber que mesmo com o fim, a interação, o aprendizado, as conquistas e as transformações fazem parte de mim.

Estão inteiramente em mim.

Tornam-se o que sou.

E juntam-se com outros fins já vividos, iniciando assim, um novo capítulo ainda mais consciente.

Gaiolas e Asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescer… Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar: “Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo?“ Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança…

Rubem Alves. Folha de São Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001

Convívio e receptividade (por Lucila Silva)

Outro dia me ocorreu sobre o que de fato me estimula a levantar todos os dias, fazer as mesmas primeiras coisas do dia e caminhar até o meu trabalho.
Todos os dias fazemos as mesmas coisas e certamente nos movimentamos de maneira igual. Os mesmos movimentos para fazer as mesmas coisas. Imagine isto todos os dias, durante anos.  Estabelecemos uma rotina incessante, criamos um modelo corporal tenso e condicionado e passamos a achar que aquilo é o normal. Desta forma, não fazemos nada para mudar.
Rotina estabelecida = modelo corporal condicionado.
Por outro lado, se através desta rotina, nós pudermos conhecer todos os dias diferentes pessoas, encontrar e conviver com pessoas agradáveis, de bem com a vida, dispostas a evoluir pessoal e profissionalmente….ah! É isso!!! Isso que me motiva a levantar todos os dias e fazer as mesmas aparentes coisas: saber que encontrarei os alunos queridos, que vou aprender e ensinar com cada um deles o tempo todo, que vou compartir idéias e fazer novos amigos. E entre abraços calorosos, boas gargalhadas e inspirações profundas, eu vou mudando, todos os dias o modelo corporal condicionado, por um modelo mais atualizado abrindo espaço para o novo. Convívio e receptividade é a dica da semana.