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Quando se vê, já é Natal…

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

O que é o fim?

Hoje terminei minha dissertação.

Ela está impressa, encadernada, pronta para a defesa em fevereiro. São leituras, reflexões, interações, aprendizado, ações e sensações… Dois anos de dedicação que agora tornam-se palpáveis.

É o fim. Isso é o que vem em mente enquanto a observo na estante.

E isso me traz a estranha sensação de felicidade e tristeza.

A alegria do objetivo alcançado, meta cumprida,  sonho realizado, da superação e do constante exercício de aperfeiçoamento. De poder tocar o que por dois anos foi foco de dedicação e estudo. De vislumbrar toda a trajetória e entender que o fim é apenas um novo começo.

Mas a tristeza da partida também faz parte de mim, de saber que as coisas irão mudar, de se distanciar de pessoas e fazeres que me deixaram por tantas vezes feliz.

Porém, reconhecer e vivenciar conscientemente essas sensações tão antagônicas em mim, me faz bem.

A dor da despedida, de abandonar o que está no fim.

A alegria de um novo início. Da busca por novos sonhos, por novas metas, por outras superações, de novos encontros, novos afazeres.

A felicidade de saber que mesmo com o fim, a interação, o aprendizado, as conquistas e as transformações fazem parte de mim.

Estão inteiramente em mim.

Tornam-se o que sou.

E juntam-se com outros fins já vividos, iniciando assim, um novo capítulo ainda mais consciente.

Gaiolas e Asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescer… Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar: “Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo?“ Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança…

Rubem Alves. Folha de São Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001