A felicidade…

“A felicidade é como a pluma,

que o vento vai levando pelo ar.

Voa tão leve…

A felicidade é uma coisa boa
E tão delicada também
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo de bom ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato dela sempre muito bem”

 Vinicius de Moraes e Tom Jobim

 

Falar de felicidade me traz a nítida imagem das pessoas correndo atrás do que querem, do que desejam, do que esperam da vida quando buscam a felicidade…

Ah! Quando eu comprar meu carro serei feliz.

Quando me casar serei feliz.

Quando for promovido estarei feliz.

Quando…

Quando…

Quando…

 

A felicidade, desta forma, torna-se o fim.

Fim da busca, fim da procura, fim do aprender e do ser.

E desde quando o fim é retrato da felicidade?

Quando eu for…

Quando eu tiver…

Quando eu chegar…

 

E hoje? E no processo? No caminho?

Uma flor, um filme com os amigos, uma tarde com brigadeiro de panela, o almoço na casa da avó, um livro, respirar lenta, profunda e prazerosamente, conversa jogada fora, rir, chorar, se emocionar, aprender com os outros, um beijo demorado, um abraço apertado, conhecer lugares, pessoas, se conhecer, reconhecer o brilho nos olhos, criar, contemplar, cuidar e ser cuidada…

Assim, a felicidade não é algo a ser alcançado mas se traduz no processo de aprender o reconhecimento e a sutileza de perceber que a felicidade está esperando ser sentida.

 

 

E o seu mundo onde está?

Imagem do livro "Com olhos de Criança" de Francisco Tonucci.

A educação convencional nos faz perceber fatos, decorar datas, reconhecer mapas. Aprendemos a ler, escrever, somar e diminuir. Na escola olhamos para os conteúdos, estudamos a língua portuguesa, matemática, história, geografia, ciências, física, química…

Mas o mundo está apenas fora de nós?

Olhar para dentro, perceber-se enquanto pessoa, amiga, amante, cidadã, profissional e família.

Olhar para dentro e estudar a si mesmo.

Olhar para dentro e observar a si mesmo.

Um processo de autoconhecimento que se torna imprescindível na busca do que somos e do que fazemos.

E você, já observou a si mesmo ou ainda está procurando o mundo lá fora?

 

Trabalho: você se reconhece naquilo que faz?

Hoje faz um mês que aceitei o desafio de um novo trabalho. São novas ações, novos espaços, novos saberes e objetivos, pessoas e ambientes. Após um período de reconhecimento do novo espaço/tempo começo a identificar um pouco de mim no que faço, significando todas as ações e transformando o que me cabe.

Mas isso pode ser privilégio de poucos.

A concepção do trabalho, hoje, nos remete à visão desse sistema capitalista, da produção em série, dos operários ou funcionários correndo “atrás da máquina” que, atualmente, leia-se: lucros. As tarefas são executadas por partes e cada um é reponsável pela sua parte. Com os mecanismos de produção compartimentados perdemos a noção do todo. Deixamos, assim, de nos reconhecermos e nos comprometermos com aquilo que fazemos.

Perdeu-se, nessa nova configuração do trabalho, o que Lukács denomina da função ontológica do trabalho. Mas o que significa isso?

É simplesmente você se reconhecer naquilo que faz, naquilo que você produz. E quantas pessoas se reconhecem nas suas funções? Nos seus afazeres diários dentro dos seus locais de trabalho?

Ilustro minhas reflexões com um trecho da obra de Lukács, que denomina-se “O Trabalho” e cita Karl Marx:

“Nós pressupomos o trabalho numa forma exclusivamente humana. A aranha realiza operações que se parecem com as do tecelão, a abelha faz corar de vergonha muitos arquitetos ao construir as suas células de cera. Mas o que distingue, essencialmente, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu a célula na sua cabeça antes de fazê-la em cera. No fim do processo de trabalho aparece um resultado que já estava presente desde o início na mente do trabalhador que, deste modo, já existia idealmente”. 

E você, na relação com o seu trabalho, nas ações executadas diariamente, consegue se reconhecer naquilo que faz, naquilo que produz ou transformou-se apenas em um “fazedor de coisas”? 

O que esperar de um “simples” final de tarde de sábado…

Um final de tarde de sábado. A mistura de um dia quente, trazendo o sol como uma pintura no céu, e o vento suave tocando nosso corpo. A companhia de amigos que se envolvem em conversas, em risadas, em interações que fortalecem o conceito da socialização como fator imprescindível para qualquer aprendizado.

Um piquenique em um parque.

Simples assim. Mas de uma grandeza imensurável que não pode ser tocada, apenas sentida. Perceber a beleza da paisagem. Sentar na grama. Ficar descalço. Comer ao ar livre sem se preocupar com o horário. Acarinhar os cachorros e observá-los desbravando aquele ambiente. Dividir o espaço na grama com amigos. Conversar, rir e sentir-se bem. Perceber a sutileza e a grandeza neste simples momento.

E foi assim que desfrutei da grandeza nessas ações sutis e simples. Em um exercício de aprimoramento que me leva cada vez a reconhecer a importância de observar, sentir e contemplar.

Para sonhar um ano novo…

 

“Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”

Carlos Drummond de Andrade

FAÇAMOS UM ÓTIMO ANO NOVO…

Quando se vê, já é Natal…

O Tempo

A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

Borboletas, flores e sonhos = poesia

Borboletas na janela

Levam flores para ela

Trazem sonhos para mim

Com sabores de canela.

 

Flores lindas no jardim

Desejos sorrindo pra mim

Sonhos lindos e querubins

Trazendo vida sem fim.

 Letícia Casanova

O que é o fim?

Hoje terminei minha dissertação.

Ela está impressa, encadernada, pronta para a defesa em fevereiro. São leituras, reflexões, interações, aprendizado, ações e sensações… Dois anos de dedicação que agora tornam-se palpáveis.

É o fim. Isso é o que vem em mente enquanto a observo na estante.

E isso me traz a estranha sensação de felicidade e tristeza.

A alegria do objetivo alcançado, meta cumprida,  sonho realizado, da superação e do constante exercício de aperfeiçoamento. De poder tocar o que por dois anos foi foco de dedicação e estudo. De vislumbrar toda a trajetória e entender que o fim é apenas um novo começo.

Mas a tristeza da partida também faz parte de mim, de saber que as coisas irão mudar, de se distanciar de pessoas e fazeres que me deixaram por tantas vezes feliz.

Porém, reconhecer e vivenciar conscientemente essas sensações tão antagônicas em mim, me faz bem.

A dor da despedida, de abandonar o que está no fim.

A alegria de um novo início. Da busca por novos sonhos, por novas metas, por outras superações, de novos encontros, novos afazeres.

A felicidade de saber que mesmo com o fim, a interação, o aprendizado, as conquistas e as transformações fazem parte de mim.

Estão inteiramente em mim.

Tornam-se o que sou.

E juntam-se com outros fins já vividos, iniciando assim, um novo capítulo ainda mais consciente.

Gaiolas e Asas

Os pensamentos me chegam de forma inesperada, sob a forma de aforismos. Fico feliz porque sei que Lichtenberg, William Blake e Nietzsche frequentemente eram também atacados por eles. Digo “atacados“ porque eles surgem repentinamente, sem preparo, com a força de um raio. Aforismos são visões: fazem ver, sem explicar. Pois ontem, de repente, esse aforismo me atacou: “Há escolas que são gaiolas. Há escolas que são asas“
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o vôo.
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
O sujeito da educação é o corpo porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver. Nietzsche dizia que ela, a inteligência, era “ferramenta“ e “brinquedo“ do corpo. Nisso se resume o programa educacional do corpo: aprender “ferramentas“, aprender “brinquedos“. “Ferramentas“ são conhecimentos que nos permitem resolver os problemas vitais do dia a dia. “Brinquedos“ são todas aquelas coisas que, não tendo nenhuma utilidade como ferramentas, dão prazer e alegria à alma. No momento em que escrevo estou ouvindo o coral da 9ª sinfonia. Não é ferramenta. Não serve para nada. Mas enche a minha alma de felicidade. Nessas duas palavras, ferramentas e brinquedos, está o resumo educação.
Ferramentas e brinquedos não são gaiolas. São asas. Ferramentas me permitem voar pelos caminhos do mundo. Brinquedos me permitem voar pelos caminhos da alma. Quem está aprendendo ferramentas e brinquedos está aprendendo liberdade, não fica violento. Fica alegre, vendo as asas crescer… Assim todo professor, ao ensinar, teria que perguntar: “Isso que vou ensinar, é ferramenta? É brinquedo?“ Se não for é melhor deixar de lado.
As estatísticas oficiais anunciam o aumento das escolas e o aumento dos alunos matriculados. Esses dados não me dizem nada. Não me dizem se são gaiolas ou asas. Mas eu sei que há professores que amam o vôo dos seus alunos. Há esperança…

Rubem Alves. Folha de São Paulo, Tendências e debates, 05/12/2001

Convívio e receptividade (por Lucila Silva)

Outro dia me ocorreu sobre o que de fato me estimula a levantar todos os dias, fazer as mesmas primeiras coisas do dia e caminhar até o meu trabalho.
Todos os dias fazemos as mesmas coisas e certamente nos movimentamos de maneira igual. Os mesmos movimentos para fazer as mesmas coisas. Imagine isto todos os dias, durante anos.  Estabelecemos uma rotina incessante, criamos um modelo corporal tenso e condicionado e passamos a achar que aquilo é o normal. Desta forma, não fazemos nada para mudar.
Rotina estabelecida = modelo corporal condicionado.
Por outro lado, se através desta rotina, nós pudermos conhecer todos os dias diferentes pessoas, encontrar e conviver com pessoas agradáveis, de bem com a vida, dispostas a evoluir pessoal e profissionalmente….ah! É isso!!! Isso que me motiva a levantar todos os dias e fazer as mesmas aparentes coisas: saber que encontrarei os alunos queridos, que vou aprender e ensinar com cada um deles o tempo todo, que vou compartir idéias e fazer novos amigos. E entre abraços calorosos, boas gargalhadas e inspirações profundas, eu vou mudando, todos os dias o modelo corporal condicionado, por um modelo mais atualizado abrindo espaço para o novo. Convívio e receptividade é a dica da semana.